A (de)pressão dos 11 meses que não se cumpriram

As horas do dia diminuem, o sol já não aparece com tanta frequência, e as festas provocam uma melancolia que rapidamente evolui para um estado depressivo extremo que reflete a frustração de mais um ano que passa e a vida não muda

Os sentimentos reprimidos libertam-se e dezembro acaba por se tornar o mês mais intenso do ano. Com uma agenda social sobrecarregada, a mente de muitos torna-se um turbilhão de pensamentos. Prendas e prendinhas, atividades intermináveis, que passam pela realização das compras para a ceia, das casas de família a visitar para desejar boas festas… a pressão para não deixar ninguém de fora, mas, no final, quem acaba por se sentir excluído, deprimido e angustiado é VOCÊ!

PESADO E TENSO

Sensação de vazio, sentimento de fracasso, saudades de quem já partiu, insónia, ansiedade, stress, dores no corpo, dores de cabeça, isolamento social e recorrer ao uso excessivo de álcool ou drogas… tudo isto sempre “temperado” com uma profunda tristeza. De facto, este período consegue ser tenso e pesado para muitas pessoas, sendo poucas as que conseguem evitar não ceder ao estado depressivo e muitas as que até desejam que esta época passe o mais rápido possível. Para Isabel já não era nada de novo, pois durante 35 anos as festividades de dezembro só intensificavam o seu desejo de já não querer fazer parte deste mundo…

 

“Só a morte me poderia trazer algum alívio…”

Não era apenas no Natal e Ano Novo que Isabel sentia a angústia e o peso da sua existência, mas o isolamento, choro e depressão intensificavam-se de forma expressiva nesta fase

“Quando vinham as festas do Natal e Ano Novo lembro-me que se houvesse sítio para me isolar era para lá onde eu ia chorar… e foram assim os meus dias até aos 35 anos, idade em que encontrei Jesus”, recorda Isabel o seu trajeto de vida. E foi apenas com 6 anos que começou a ver vultos. “Via um homem e uma mulher… e sabia que aquilo não era normal”, revela, acrescentando que a sua mãe tentou solucionar o problema recorrendo a vários locais, mas sem resultados.

MÁGOA DA MÃE

Infeliz, amarga e rebelde… foi esta a jovem que Isabel se tornou. “A tristeza começou a invadir o meu dia a dia e a piorar cada vez mais. Sofria desmaios constantes, não sentia alegria, para mim, todos os dias eram iguais. Foi nessa fase que comecei a pensar em suicídio, ao mesmo tempo que comecei a ter muitos problemas com a minha mãe. As discussões eram constantes, até que ela começou a agredir-me. Foi assim que passei a guardar mágoa dela e até a desejar a sua morte”, conta. Uma vez com comprimidos e outra por afogamento no mar, foram estas as duas tentativas de suicídio às quais Isabel, por milagre, sobreviveu.

SOLUÇÃO OU DESILUSÃO?

Mais tarde, casou, mas a situação piorou. “Tornei-me uma pessoa ainda mais triste e amargurada. Entretanto, conheci o meu atual marido, pensando que ele iria ser a solução para a minha vida. Mas, também não me sentia realizada. Ainda vivemos juntos uns anos, pensando que as coisas iriam melhorar, mas era eu que o agredia. Para mim, ele era o amor da minha vida, mas, quando ele estava ao pé de mim, odiava-o, e, quando se ia embora, eu sentia saudades.”

ALÍVIO NA MORTE

“Pensava que só a morte me poderia trazer algum alívio. Até que, um dia, a minha mãe me falou na Universal e eu fui à procura de uma solução. A princípio, achei tudo muito estranho, porque as pessoas eram felizes, conversavam umas com as outras, e eu não estava habituada a sorrisos e à boa disposição. Decidi ficar e perseverar, passando a obedecer ao que era falado na Palavra de Deus e, aos poucos, comecei a ver resultados. Há cerca de 2 anos, descansava, no máximo, 2h por noite e, a partir daí, passei a dormir a noite toda.”

O QUE FALTAVA

“À medida que ia participando nas reuniões, começou a nascer dentro de mim o arrependimento, porque tinha muito medo que Jesus não me perdoasse. Na verdade, eu não me conseguia perdoar a mim mesma, então, comecei a pedir ajuda a Deus. A força para me arrepender e me tornar numa nova pessoa veio e tomei a decisão de me batizar nas águas. Fiz um voto com Deus para que Ele me ajudasse a perdoar a minha mãe, porque sozinha eu não seria capaz. Quando, finalmente, a perdoei, recebi paz, os meus dias passaram a ser muito mais tranquilos e a minha vida começou a mudar.”

O GRANDE DIA

“Um dia, o Espírito Santo veio sobre mim e eu passei a ser uma nova Isabel, que já não tinha vontade de se matar, nem de discutir com ninguém. Hoje, quando surgem situações já as consigo superar. Por exemplo, quando o meu marido está chateado, já sei como agir. Recebi sabedoria, tornei-me numa boa mãe e, hoje, sou feliz! Agradeço a Deus pela vida que tenho! O Espírito Santo é tudo para mim, é meu amigo e não me deixa ter medo de nada! A ‘lepra’ da mágoa fazia-me viver aprisionada, mas o perdão me libertou!”, resume Isabel o seu percurso.

Isabel Ascenso

Fonte: Folha de Portugal

Artigos relacionados

Dezembrite

A (de)pressão dos 11 meses que não se cumpriramAs horas do dia diminuem, o sol já não aparece