“Com apenas oito anos, não tinha vontade de viver”

Alvo de abuso sexual por parte de um familiar durante dois anos, Caroline cresceu traumatizada e complexada, não deixando ninguém aproximar-se de si

“Cresci numa casa dividida, tendo os meus pais se separado alguns anos depois do meu nascimento. Nasci com lábio leporino e marcada pela cicatriz no rosto, sentindo-me feia e inferior às minhas irmãs. Não me valorizava e tudo piorou ainda mais quando fui alvo de abuso sexual, durante dois anos, por um membro da família. Na época, eu tinha apenas seis anos e resolvi sofrer calada.
O abuso só terminou quando a minha mãe decidiu casar-se e nos mudámos para a Alemanha, mas o que parecia ser um alívio tornou-se um pesadelo. Pois algo dentro de mim tinha mudado, a mágoa tomou conta de mim e eu sofria com pesadelos, insónia e pensamentos sujos. Com apenas oito anos, não tinha vontade de viver e era extremamente fechada. Por vezes, os pensamentos eram tão fortes e eu sentia-me tão suja que ficava muito tempo debaixo do chuveiro tentando sentir-me menos suja.”

“A autorrejeição era tão grande que me sentia um lixo e não gostava de mim mesma! Enfim, tornei-me uma jovem complexada, tímida e quieta, não deixava nenhum homem sequer me tocar.”

Perdão e aceitação. “Conhecemos a IURD quando ainda estávamos no Brasil, mas quando viemos para a Alemanha, não havia nenhuma Igreja perto de onde morávamos. Passados alguns anos, abriu um núcleo mais perto de onde morávamos, acompanhava a minha mãe á Igreja, mas não ligava.
Até que, um dia, comecei a sentir dores constantes na barriga e vermes tomaram conta do meu estômago. Ao escutar o pastor falar de cura, quis colocar Deus à prova. Nenhum medicamento amenizava a dor que sentia, já não dormia mais e gritava com dores. Então, o pastor orientou-me a usar do Óleo Consagrado, todos os dias antes de dormir, no local da dor.”

“O que em cinco anos com muitos tratamentos não aconteceu, aconteceu depois de três noites.”

“Fui curada e essa foi a minha primeira experiência com o poder de Deus.
Com 14 anos fiz o meu primeiro sacrifício voluntário e, no mesmo dia, dormi com paz e tranquilidade. Consequentemente, fui abrindo o meu coração para o que era falado nas reuniões, mas ainda era dominada pelo meu passado, estava cheia de complexos, não me conseguia relacionar com ninguém e tinha pensamentos de suicídio. Então, por volta dos 16/17 anos, decidi largar o pecado e viver uma vida com Deus. Porém, só quando a pessoa que abusou de mim foi diagnosticado com cancro, é que decidi perdoá-lo. Foi aí que realmente me vi livre do passado, consegui perdoar a essa pessoa, à minha mãe e a mim mesma. Finalmente, tive o meu encontro com Deus, enterrei o meu passado e abri o meu coração para uma nova vida. Pela primeira vez na minha vida, senti-me amada e aceite!”

Caroline Gomes
Fonte: Folha de Portugal, edição Nº756