“Os pensamentos de suicídio começaram aos 6 anos”
Apesar de ter uma vida aparentemente normal, com pais presentes, com amigos na escola e sem nada lhe faltar, Jacira sofria interiormente
“Aparentemente, tinha tudo para ser uma criança feliz e, futuramente, um adulto com sonhos e objetivos traçados e alcançados, mas a minha realidade estava bem longe disso.
Os pensamentos de suicídio não vieram de imediato, primeiro vieram as acusações e depois um ódio descontrolado do mundo inteiro e de Deus, porque na minha cabeça Ele não me protegeu dos homens que me molestaram na infância.
Os abusos aconteceram entre os 6 e os 12 anos, mas não contei isso a ninguém, nunca pedi ajuda e passei a odiar os homens, inclusive o meu próprio pai, torcendo para que ele se separasse da minha mãe. Na adolescência tudo piorou ainda mais, fugi de casa, tive 7 negativas na escola e insinuava-me para os professores. Entretanto, escrevi uma carta a despedir-me da minha família e fiz uma lista das maneiras mais rápidas para morrer, mas a que mais me vinha à cabeça era atirar-me da janela do meu quarto. Ainda tentei fazê-lo por duas vezes, mas ou chegava alguém ou, na hora, acabava por ter medo.
Era terrível, pois ouvia muitas vozes que me diziam que eu não era nada e que ninguém me via. Mesmo eu via-me como feia, apesar de participar em concursos de beleza e de ser popular na escola”.
O PERDÃO
“Um dia, a FJU chegou até mim, através do testemunho de jovens que passaram pelo mesmo que eu e que já não odiavam os seus agressores, que não eram dependentes de medicação, que eram ativos em projetos ligados à cultura, ao desporto… contribuindo assim com a sua inteligência e testemunho para ajudar os outros. Foi aí que vi uma saída para o ódio que havia dentro de mim! Criei amizades, consegui superar todos os sentimentos ruins, perdoei aos meus agressores e, acima de tudo, perdoei-me a mim mesma. A partir do momento em que me vi como uma jovem que tem a opção de escolha e que sabe distinguir o passado que não controlei de um futuro que agora posso traçar, a influência dos maus sentimentos acabou. Hoje, sou uma jovem adulta, amo o meu pai, projeto casar e ajudo outros jovens, mantendo o meu foco numa vida completa com Deus”.
Jacira Lopes
Fonte: Eu era assim