Quando estamos com depressão, só pensamos no pior

Apesar de ter crescido num lar cristão, Gabriel enfrentou o fantasma da depressão na adolescência e só através do apoio dos pais e da fé conseguiu superar a imensa tristeza sentida

“É uma dor terrível porque pensamos que não tem solução, que não temos que estar ali, que ninguém nos liga, o que não é verdade, mas é isso que pensamos.” Foi desta forma que Gabriel Morgado descreveu o seu sofrimento aos 13 anos. Na altura, tinha mudado de cidade com os pais e estava a enfrentar o fim de um relacionamento amoroso. “Como filho de pastor, mudava de cidade a toda hora. Então, o fim do relacionamento foi um choque na minha vida e eu não sabia o que fazer.”

Gabriel relata que se passou a isolar. “Não queria mais conversar com os meus pais, nem estar com eles.” Mesmo com o aumento da tristeza, não tinha coragem de contar o que sentia. “Pensamos que não nos vão entender. Ficamos com vergonha de falar. Dizemos que está tudo bem, mas não está.”

Por seu lado, o bispo André Morgado, pai de Gabriel, alerta para o facto de a depressão poder surgir mesmo em famílias cristãs e que, por isso, os pais devem ficar atentos aos sinais. “O meu filho nasceu na Igreja e tinha o nosso exemplo em casa. Para quem é da fé, é um susto. Isso é algo que pode acontecer sorrateiramente. Percebemos que o nosso filho se começou a fechar no mundo dele, ficando o dia inteiro no quarto, reagindo e ficando agressivo quando íamos conversar.”

Gabriel confessa que chegou a pensar em se matar, mas que o ato foi impedido pelos pais. “Foi quando percebi que precisava de ajuda. Comecei aos poucos a aproximar-me de Deus e a relacionar-me melhor com os meus pais”.

Diálogo. Para enfrentar a situação, o bispo e a sua esposa Luciana procuraram fortalecer ainda mais a relação com Gabriel, apostando no diálogo. “Não adianta tentar mudar o filho à força, a imposição só gera mais agressividade. É importante trazer o filho para perto, como amigo. O jovem precisa sentir confiança para perguntar, expor os seus pensamentos e pedir ajuda”.

O bispo relembra ainda que é necessário ter paciência e usar a fé. “A mudança não acontece da noite para o dia, os pais precisam respeitar o tempo do jovem e ir aconselhando, ensinando. E nesse período, devem usar a fé, orar e pedir a sabedoria de Deus para lidar com a situação.”

Luciana, mãe de Gabriel, salienta que não desistiu do filho mesmo quando ele não queria qualquer contacto.

“Eu ficava perto dele mesmo quando havia rejeição, perseverava, conversava e fazia coisas que lhe agradavam. Mas como sabia que era um problema espiritual, então, fui para o Altar, orava e pedia direção para ele”.

Para Gabriel, falar sobre o problema foi fundamental para que pudesse ver uma saída. “O que me ajudou na recuperação foi compartilhar com alguém essa dor. Quando estamos com depressão, a nossa visão é limitada, só pensamos no pior. Mas ao falar com outra pessoa, conseguimos abrir a visão.” O jovem acrescenta ainda que a fé ajudou-o a fortalecer-se. “É importante manter uma relação com Deus porque com Ele podemos falar sem ter vergonha e extravasar a nossa dor”, conclui Gabriel, que agora estuda Engenharia e está noivo da estudante de Medicina Maria de Fátima.